sábado, 19 de maio de 2012

Infinitude dos Amantes / John Donne

Eros e Psiquê de Antônio Canova
Se até agora ainda não possuo todo o teu amor, 
Querida, nunca o terei de todo. 
Não posso soltar mais um suspiro, comover-me, 
Nem suplicar a mais outra lágrima que corra; 
E todo o meu tesouro, que deveria comprar-te,
Suspiros, lágrimas, juras e cartas — já gastei. 
Porém, nada mais me poderá ser devido, 
Além do proposto no negócio acordado: 
Se então a tua dádiva de amor foi parcial, 
Que parte a mim, parte a outros, caberia, 
Querida, nunca te possuirei totalmente. 

Mas, se então me deste tudo, 
Tudo seria apenas o tudo que ao tempo tinhas; 
E se em teu coração, desde então, existe ou venha 
A existir novo amor gerado por outros homens, 
Cujos haveres estejam intactos e possam, em lágrimas, 
Em suspiros, em juras e cartas, exceder a minha oferta, 
Este novo amor pode suscitar novos receios, 
Dado que um tal amor não foi jurado por ti. 
Mas se foi, sendo as tuas dádivas gerais, 
O terreno — o teu coração —, é meu, e o que quer 
Que nele cresça, querida, pertence-me totalmente. 

Porém, também não o quereria todo ainda, 
Porque quem tudo tem nada mais pode possuir 
E visto que o meu amor deve aceitar cada dia 
Um novo aumento, deverias reservar-me novas recompensas. 
Não podes dar-me o teu coração todos os dias, 
Porque se pudesses, é porque nunca mo tinhas dado. 
E tais são os enigmas do amor: ainda que teu coração parta, 
Fica em casa; e ao perdê-lo, tu salvaste-o. 
Mas nós encontraremos um caminho mais nobre 
Que a troca de corações: poderemos uni-los, e assim 
Seremos um, e o todo de cada um. 

 "Poemas Eróticos" 

Nenhum comentário:

Postar um comentário